Aotearoa - Como fui parar lá

Eu tive o privilégio de ter viajado ao exterior diversas vezes quando adolescente: férias, curso, intercâmbio. Isso sempre manteve minha curiosidade sobre outros países e culturas em alta. Quando me formei e entrei no mercado de trabalho, não demorou muito pra eu me decepcionar com o Brasil. Sabe essas reclamações que hoje em dia tomaram conta das redes sociais: corrupção, ineficiência, incompetência e corrupção do poder público, altas taxas de imposto sem retorno algum, falta de cidadania da maioria, falta de respeito ao próximo etc etc? Isso já me incomodava desde o começo do milênio, e eu queria ir embora do país.
Tentei arrumar emprego ou estágio fora diversas vezes, mas nada nunca deu certo, principalmente por causa de falta de visto de trabalho.  O André estava no mesmo barco que eu, por motivos bem parecidos, e como casal nós nos unimos pra tentar fazer isso acontecer de alguma forma. Com 20 e poucos anos achamos que se a vida fora desse errado, poderíamos voltar e recomeçar a vida no Brasil com o apoio da família e amigos.
Pois foi um amigo que nos deu a força incial. Um cara que se formou conosco em Ciência da Computação estava morando em Auckland. Entramos em contato com ele, e da próxima vez que ele veio ao Brasil nós nos encontramos com ele pra ter mais detalhes do país e do mercado de trabalho em TI por lá. Foi tudo bem encorajador. Começamos então a pesquisar oportunidades de emprego em TI e como conseguir visto. Pra diminuir o risco e aumentar a chance de dar certo, acertamos do André ir primeiro e ver se conseguia se dar bem em entrevistas com perspectiva de contratação.  Nunca pretendemos ficar lá de forma ilegal, e passando o período do visto, caso nada tivesse dado certo, teríamos voltado pro Brasil.
 Depois de muito planejamento, chegou o dia do embarque do André. Nunca vou esquecer aquele dia, quando ele me disse: Esse é o primeiro dia do resto de nossas vidas. E estava certo. Foi aquela viagem, aquele risco que assumimos que nos abriu as portas do mundo, pra tudo o que já vimos e experimentamos em mais de 30 países até agora.
Uma vez lá, não demorou muito pra ele conseguir um emprego e visto de trabalho. Logo foi a minha vez de comprar a passagem e arrumar as malas. O real estava muito desvalorizado naquela época, e lembro que minha passagem saiu 12 mil reais. Foram mais de 24 horas de viagem de Florianópolis até Auckland, pois tive que passar por Curitiba, São Paulo, Buenos Aires, e então Auckland. A viagem do Brasil até a Nova Zelândia sempre foi muito cansativa, não só pelo tempo de viagem, mas o fato de que a Aerolineas Argentinas, empresa que fazia o vôo na época, era muito, mas muito ruim, e pra completar, a gente tem a noite mais comprida da vida, além de enfrentar um fuso-horário de 15 horas na nossa frente! O vôo saía de Buenos Aires meia-noite e chegava às 5 da manhã do dia seguinte em Auckland.
Lembro de ter chegado no aeroporto e o André estar lá me esperando com flores. Fomos pra casa pra eu poder descansar da viagem. Liguei pra minha mãe pra avisar que tinha chegado, e a voz dela estava bem longe. O mais longe possível, pra falar a verdade. Era a nossa vida em Auckland começando.

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